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Uma reflexão independente sobre a mídia.

domingo, 29 de dezembro de 2013

sábado, 21 de dezembro de 2013

Quarto... ou Primeiro Poder?

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Repercuto o post de Gloria Melagarejo, no Facebook, a partir de matéria do blog "Desilusões Perdidas - jornalismo com bom humor":

"A velha imprensa ficou perdidinha com os protestos de junho. Chamou manifestante de vândalo, depois elogiou a polícia, depois mudou o discurso total. Vinagre na mão de jornalista virou arma e deu cadeia. Bala de borracha doeu no olho e na alma. Os ninjas mostraram do asfalto o que a Globo tentou mostrar do helicóptero. As redes sociais pautaram a imprensa. E tudo isso reforçou a questão: qual o futuro do jornalismo?

A audiência em queda do Jornal Nacional passou a ser exibida em HD. Bento 16 sacaneou a Ilze [Scamparini], ao renunciar bem nas férias da setorista papal. O El País chegou ao País. A Abril “descontinuou” várias revistas, como a Bravo!. 

Empresas de comunicação “descontinuaram” o emprego de jornalistas em todo o Brasil. Os bravos do Diário do Pará cruzaram os braços por mais dignidade. O pessoal da EBC também parou. Jornalista faz greve, sim.

Pimenta Neves – que medo – passou a andar solto por aí. A Vejinha precisou provar que o Rei do Camarote não era pegadinha do Mallandro. O Fantástico trocou uma Renata por outra. A imprensa começou o ano babando ovo pro Eike e acabou o ano jogando ovo no Eike. 

O Globo, com meio século de atraso, admitiu que o apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro. Marcelo Rezende coçou o saco ao vivo no Cidade Alerta. A Poeta, com pressa de ver a novela, se levantou da bancada antes da hora. O [Cesar] Tralli chamou o Cheirão de Chorão, ops!, chamou o Chorão de Cheirão.

E o Lobão virou colunista da Veja, o que torna o debate sobre o futuro do jornalismo ainda mais urgente, porque o bagulho ficou ainda mais foda."

"Pertinentíssima" questão, esta do futuro do Jornalismo. Combina com outra, a do futuro da "civilização" brasileira.

Que país queremos ser? 

Edmar Bacha cunhou "Belíndia" (mix de Bélgica e Índia) e Caco Barcelos mostrou, em seu último "Profissão: Repórter" de 2013, as vísceras abertas da política - e dos políticos - do Brasil. A esta altura indago-me:

"Imprensa, no Brasil - quarto ou primeiro poder?".
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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Concordo com o Chico: #TOMARA_QUE_CAIA!

Pano rápido!

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Alguém já havia prevenido...


... que o governo federal usaria o Mais Médicos, o Minha Casa Minha Vida e o PRONATEC como motes da campanha pela reeleição de Dilma Rousseff.

E hoje, um anúncio de página inteira (preço de veiculação, "cheio", sem descontos: R$ 419.328,00), a de número 5, n'O Globo, propagandeia: "PRONATEC. Cada brasileiro que cresce faz o Brasil maior".

Pergunto: - em quantos veículos mais o MEC está reproduzindo esta ação de publicidade comercial? Por quanto tempo?

Não seria melhor utilizar esta montanha de recursos nos fins deste programa (e noutros), ao invés de nos meios de comunicação?

Com a palavra toda a juventude brasileira que não está assistida por qualquer programa do governo federal.
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domingo, 17 de novembro de 2013

Fui acusado de defender a aplicação da Ley de Medios "para nós", no Brasil...

NUNCA sugeri o modelo da lei argentina para "nós" - o modelo da lei argentina é "deles", com tudo o que a história e a derrocada do último século (em 1913 a Argentina era o quinto país do mundo) acarretam... 

Meu "norte" é a FCC estadunidense. Outro bom caminho é a PCC britânica. 

Registro: sonho com um Brasil livre de PT, PSDB, PMDB (o maior "inimigo", a ser mais urgentemente abatido) e PSB (no qual a cavalgadura vice-presidente considera-se "um intelectual"). 

Leitura obrigatória, no tema; "Impérios da Comunicação", de Tim Wu - um libelo que alerta quanto a monopólios, de qualquer tipo. 

A matéria de capa da penúltima CartaCapital é ótimo material jornalístico investigativo sobre o tema e busca entender como as Organizações Globo, de uma pré-falência em 2001 (até o salvador PROER da mídia, com FHC), passa seus controladores à família mais rica do país (pelo ranking da Forbes). 

Precisamos construir o NOSSO modelo. 

Diverso, respeitando a Constituição Federal no que tange a Cultura e Comunicação (http://www.marketing-e-cultura.com.br/website/pg006/pg06-abcd.html) e concorrencial - como em qualquer dos países (muito) mais civilizados que o Brasil.

FCC - Federal Communications Commission 

PCC - Press Complaints Commission
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Efeito colateral?

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O texto de Opinião publicado pelo jornal O Globo, hoje, em sua página 31, concomitante à reportagem "Argentina começa processo que obriga Clarín a entregar concessões", antecipa a defensiva na qual estarão todos os grupos integrantes do PGI (Partido da "Grande" Imprensa) no idêntico embate com o qual o Brasil já tem um encontro marcado... desde 1962 - data da atual legislação sobre comunicações no país.

A íntegra:

EFEITO COLATERAL

A decisão da mais alta instância da Justiça argentina de referendar a Lei de Meios atinge o país de forma bastante ampla.

A redução compulsória do tamanho do Grupo Clarín é um ataque à liberdade de expressão e, portanto, à própria democracia.

E, ao sinalizar ao mundo que inexiste segurança jurídica na Argentina - pois concessões podem ser cassadas no Judiciário por pressão do Executivo -, o país fica ainda mais distante dos planos de investidores estrangeiros.

Muito bem dito

Cai por completo a máscara das "organizações", na voz de seu mais emblemático veículo - o house organ impresso O Globo.

Volta o mesmo blá-blá-blá da época das eleições de 2002: o "medo" da insegurança jurídica", o "medo" da "pressão" do Executivo, a "fuga" dos investidores estrangeiros...

E repete-se a mesma lenga-lenga que tenta justificar o imbecilizante lixo imposto ao público por suas empresas de mídia eletrônica - absoluto "entretenimento", escondendo-se atrás do conceito "liberdade de imprensa" quando menos de 10% da programação é dedicada a jornalismo...

Concessões ... na marra

E quem é O Globo para questionar concessões públicas? Se não é um diário sustentado pela receita (entre outras) publicitária do canal (5) de TV (Paulista) sob a qual pairam suspeitas há décadas?

Como cobrar algo da "opinião publica" (*), se trata-se o grupo de uma centena de empresas de responsabilidade limitada sobre as quais  não incide qualquer legislação de transparência?

Como responder à imoral propriedade cruzada? Como responder à homogeneização da cultural e descumprimento dos mínimos reclamos constitucionais de diversidade e regionalidade?

Como responder ao monopólio que abocanha 60% do "bolo" nas verbas publicitárias?

Ato falho

"Efeito colateral" nos games é sinônimo de civis mortos "sem querer" nas eternas guerras de gangues versus "forças de segurança"...

(*) Ensinava - nas próprias páginas de O Globo -, Artur da Távola (ex-senador pelo PSDB do Rio de Janeiro, falecido em 2008): "Não existe opinião pública, mas a opinião de quem publica".
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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Infelizmente, isto acontece mais do que se noticia...

... a carteirada!

Você sabe com quem está falando?

A pergunta típica, estudada em profundidade pelo mestre Roberto DaMatta, não está dependurada só na voz de "autoridades" que, aliás, pelo simples fato de articularem-na deveriam perder sua condição... uma espécie de "teje preso" instantâneo por parte do cidadão comum, vítima predileta dessas genuínas "otoridades".

Infelizmente a arrogante pergunta povoa - e cada vez mais - o vocabulário dos repórteres. Até daqueles nem tão repórteres assim... 

Explico

Durante muitos anos, desde a ditadura, o crachá de IMPRENSA livrou muita gente de porrada, da prisão "para averiguações" (tipo Amarildo) e, até, de pagar ingresso em cinemas, teatros e shows. Ostentar este crachá, aliás, tornou-se algo muito mais importante para alguns jornalistas - principalmente aqueles do tipo "de assessoria" (ou em assessoria como preferem outros), praticantes do "jornalismo de notinhas" - que o diploma.

E passou a existir uma indústria de credenciais de imprensa. Com benefícios aqui e no exterior, acesso "ilimitado" (parece até a propaganda - enganosa - das companhias telefônicas). Com direito a carimbo vermelho com o termo IMPRENSA em letras garrafais - para que nem um porteiro míope possa atrapalhar o sagrado direito de ir e vir do repórter - mesmo que esteja gozando férias em Paris.

Presenciei, certa vez, uma conversa de coleguinhas, discutindo como a credencial da Fenaj dava acesso a teatros na capital francesa, diferentemente da "credencial chulé" do sindicato. E ainda há um hard prazo de validade. Ou seja, todo ano tem que "pingar" o custo da credencial, dada só a quem paga, mesmo que não se esteja trabalhando na imprensa. Vida dura a desses colegas...

O vício é acompanhado de outro, ainda hoje: a ostentação de um tal "registro" na "DRT", no MTB, algo que NUNCA foi credencial profissional, se não artifício adotado pelos jornalistas no tempo da ditadura para não serem presos, provar "emprego fixo" em redação, quando - obviamente - a carteira de trabalho (expedida pelo MTB - Ministério do Trabalho e Emprego) teria uma anotação na Delegacia Regional do Trabalho. 

Boca torta

Os maus hábitos continuados levam alguns a assumirem tons de arautos da "verdade verdadeira" e, mais infelizmente ainda, pululam nas faculdades, fazendo "bicos", ou freelas (no jargão dos coleguinhas) como "professores", uma vez que não entram numa redação há décadas...

Veja aqui outro exemplo - grave - da má prática que tem que ser eliminada se queremos uma comunicação que leve à tão demandada (e tão pouco entregue) "transparência".

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A invasão das jabuticabas.

Assessores de imprensa, essas brasileiríssimas jabuticabas.

Em diversos comentários anteriores, aqui e em outros ciberespaços, dediquei-me a demonstrar que assessoria de imprensa - essa invenção brasileira - tem mais efeitos deletérios que serviços prestados à cidadania e à própria noção do seja informação. Acesse aqui uma delas.

A difícil e nobre tarefa de formar relações-públicas na graduação (a que dediquei-me por 24 anos) e jornalistas, na pós-graduação (a que dedico-me há mais de uma década), fica ainda mais complexa porque a mídia - justamente o locus, a arena, do exercício dessas profissões, não abre espaço para o tema... mídia. Isto porque vivemos, no Brasil, desde 1962, um genuíno "coronelismo midiático" (mais adiante descubra o porquê).

Agora, hoje mais precisamente, uma nota "perdida" na coluna "Panorama Político", de Ilimar Franco, n'O Globo (página 2), vem em meu socorro, narrando episódio exemplar da inversão de valores em que se transformou o toma-lá-dá-cá entre "quem é notícia" e "quem difunde notícia".

À íntegra da nota [os colchetes, meus, fazem-se necessários]:

No ar o plantão da madrugada

O Senado se rebelou ontem contra os assessores [de imprensa] que dirigem a TV Senado. Estes decidiram reprisar as sessões da Casa depois da meia-noite [ou seja, no dia seguinte], exibindo no horário nobre programas estrelados por seus jornalistas. Roberto Requião perguntou: "De quem é a TV? É dos jornalistas que nela trabalham?". Pedro Taques sentenciou: "Não cabe a eles decidir o que será transmitido". Randolfe Rodrigues definiu: "Impensada decisão". Álvaro Dias protestou: "Não é de madrugada que a população poderá nos fiscalizar". Paulo Paim resumiu: "Jogar para depois da meia-noite? Aí, não dá!". Eles querem que a Mesa coloque ordem na TV institucional do Senado e dos senadores.

É claríssimo! Um fato grave que só um bom jornalista sintetiza numa nota e tem a coragem de assinar. Eu mesmo, nesta madrugada, só em torno de 3 horas da manhã, é que pude ver com meus próprios olhos a aprovação da medida que estende os efeitos da Lei da Ficha Limpa aos assessores dos gabinetes senatoriais.

E não é que na mesma edição de hoje, d'O Globo, na página 19, Zuenir Ventura - decano da profissão, talvez num surto da febre JB - desautorizou todos os seus colegas de redação postos, há já uma semana (veja aqui), a desqualificar a entidade "mídia NINJA"?

Escreveu o mestre Zuenir: os Ninjas (sic) não inventaram o jornalismo e também não vão acabar com ele. A seu favor, porém, o fato de que, apesar dos possíveis equívocos e da inocente presunção, eles tiveram o mérito de fazer com a imprensa o que as manifestações fizeram com a política: refletir sobre si mesma. Um pouco como esses novos atores da cena nacional fizeram ontem [na Casa do Saber, que agora é de propriedade d'O Globo] com este velho jornalista - ou "pós-jornalista".

Zuenir Ventura matou a charada: pós-jornalismo. Algo que veio para ficar, sobretudo pós-tecnologias telemáticas acessíveis a todos. Nada mais será como antes. E não fora o próprio jornal O Globo que criara o "Eu-repórter"? Estimulando qualquer pessoa a fazer sua reportagem sobre os fatos que testemunha?

Pobres coleguinhas. Agora ganharam mais esta concorrência - a de qualquer um. E pobres leitores, pois lerão, assistirão e navegarão matérias sem apuração, sem contraparte, feitas sem a necessária e indispensável ética profissional.

O jornalismo já perdera a prerrogativa de exigir diplomas universitários de seus candidatos a praticantes, não tem um código de ética com força de lei porque os patrões empenharam-se no lobbying contra a criação de Conselhos Profissionais (Federal e Regionais) para os jornalistas e, agora, repórteres e redatores experientes perdem lugar - porque "caros" - para neófitos pinçados na parentela dos donos dos veículos, de norte a sul do Brasil (como previu Aydano André Motta, aliás) ... Lamentável!

Por isso tudo é que o Observatório da Comunicação Institucional apoia as seguintes causas do jornalismo brasileiro:

- Restauração da exigência de diploma de nível superior para o exercício do jornalismo;

- Criação do Conselho Profissional da classe;

- Estabelecimento do novo marco regulatório da comunicação no Brasil, já podre de velho pois que de 1962.

Muda de canal!

Toda produção artístico-cultural popular tem grande audiência. Por isso é popular. 

Se a população tem pouca instrução (educação básica) e cultura (acesso a outros repertórios, algo que só a família e a escola podem fazer), os meios de produção têm que circunscrever seus produtos a esta audiência.

A Globo se liga em você.

Todos nós percebemos uma modificação do próprio "padrão global" na última década, quando da ascensão das "novas classes médias", C, D, E, F, G, H. O apelo aos baixos instintos também pulula na França, nos EUA, na Dinamarca. O baixo nível da TV aberta é um fato universal. O BBB é multinacional.

Há, porém, um ponto a ressaltar: a falta de concorrência proporcionada por uma legislação podre de velha (nosso marco regulatório da comunicação é de 1962), que permite concentrar 50% das verbas publicitárias em apenas UM conglomerado da indústria cultural (vale a pena recorrer a Adorno, que não é enfeite *) - fato ÚNICO no mundo, nos países muito desenvolvidos e nos menos também.

É este o cerne da crítica ao status quo da nossa mídia, proporcionado não por outros que não nossas "excelências", os políticos profissionais, que, aliás, pela Constituição Federal, não poderiam deter concessões - que são públicas - de emissoras de rádio e de TV, mas as possuem por meio de "laranjas", usando-as indiscriminadamente, não obedecendo o que a CF de 1988 também prescreve em seus Artigos específicos para Comunicação e para Cultura.

Quanto a "mudar de canal" - o óbvio conselho de Merval Pereira et alii, seria preciso que as milhões de crianças que ficam "presas" em seus barracos a tarde inteira, tivessem ali a presença de pais ou responsáveis para fazê-lo. Os mesmos, porém, estão dependurados nos transportes urbanos correndo atrás do pão de cada dia e fugindo dos tiroteios que seus filhos assistem "ao vivo" até que seus pais cheguem para assistirem, juntos, a "mais um campeão de audiência".

E como diria o William Homer Simpson Bonner: boa noite!

* "Adorno não é enfeite" é a denominação de uma chapa candidata, no passado, ao Centro Acadêmico de Comunicação Social da UERJ.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

E a reparação dos danos causados a corações e mentes nestes já 50 anos?


O jornal O GLOBO, em sua edição de hoje, reserva meia página (a de número 5) para auto-elogios quanto à sua grave decisão de admitir que errou ao apoiar editorialmente o golpe militar de 1964.

Fiel a este alinhamento, e por muito tempo, O Globo chamou o golpe militar de "Revolução", bem ao gosto dos generais que durante 21 longos anos ocuparam o poder central do Brasil.

Aliás, o - ótimo - livro de Joe Wallach, o "americano" da Globo (*), conta com quantos militares se fez o grupo de empresas de Roberto Marinho. Do almoxarifado à contabilidade, da cenografia à central técnica, das garagens ao lobby, aparecem tenentes-aviadores, capitães intendentes, sargentos, marinheiros... Não fica claro se faziam "bico", numa dupla jornada por lá, ou se estavam licenciados de suas atividades de caserna...

O jornal também admitiu que tentou "vender" aos seus leitores (**), que não havia importância nas movimentações que chegaram a reunir, em um dia, 1 milhão de pessoas na praça de Sé, em São Paulo, pelas Diretas Já, em 1984.

A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!

Na matéria encomendada, chapa-branca, Maurício Azêdo, pessoa - hoje - nefasta ao jornalismo por seu absoluto e aviltante (***) apego ao poder, na ABI, constrói a seguinte tese: "o jornal tomou uma atitude corajosa ao admitir que cometeu um equívoco editorial. Algo que até hoje não foi feito por outros veículos de comunicação de expressão nacional, que também se manifestaram a favor dos militares" (vide foto acima).

Ora, para uma empresa (mais... para um conglomerado de comunicação que se desenvolveu inteiramente à sombra da ditadura, o que agora considera um "equívoco 'editorial'!") com tanta responsabilidade e poder sobre a opinião pública, formadora de consciências; um reconhecimento público como este requer pronta e justa reparação dos danos causados! Mas, como calcular o reparo devido por tamanho equívoco?

Se a cultura de um povo tanto deve aos seus meios de comunicação, qual a parcela que se poderia atribuir a um, ou a dois, ou a três veículos, na criação de um imaginário "pró-golpe"? Como se mede isto? E suas consequências? Como se avalia o prejuízo decorrente? Se as Organizações Globo, com todo o seu poderio, estivesse contra os militares, estaríamos nós ainda em meio a tanta desigualdade social, subdesenvolvimento cultural e histórico de corrupção? Talvez não...

E como se contabiliza a reparação necessária? Se "a Globo" (constelação de empresas assim tratada pela percepção de todo-poderosa de que desfruta e que, efetivamente, exerce) pôde tanto, e tanto ainda pode, desde 1964, como proceder a uma reparação justa aos corações e mentes que se deixaram levar por tal equívoco (pai e avô de tantos outros, provavelmente...) de quem está a completar 50 anos "campeã de audiência" na mesma data que o golpe?

Está aí um cálculo indenizatório do qual eu gostaria de participar. 

(*) "Meu capítulo na TV Globo". Rio de Janeiro, Top Books. 2011. 

(**) ... ouvintes (do sistema Globo de rádio) e telespectadores (da Rede Globo de Televisão) - porque ninguém pode esquecer o fato de que o jornal foi a célula mater do conglomerado empresarial que por volta de 2001, quando do salvador "PROER da Mídia", de FHC, chegava a 99 empresas... (o grupo Silvio Santos tinha, então, 44 companhias).

(***) As últimas (e enésimas) eleições de Azêdo para a presidência da Associação Brasileira de Imprensa estão sub judice em virtude de fraudes constatadas no processo eleitoral.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PORCA MISÉRIA! QUEM LÊ TANTA NOTÍCIA?

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OUTRO DIA, UM IRADO Ricardo Boechat qualificou de "porcaria" um serviço público.

Ouço o Boechat (na Band News Fluminense FM) de vez em quando. E ele é mesmo irado de vez em quando. Mas nunca tinha ouvido antes o adjetivo "porcaria" da parte dele.

Porcaria, no dicionário, quer dizer “objeto sujo, nojento; coisa em mau estado ou sem valor”.

Hoje, lendo as manchetes d'O Globo - único jornal que sobrou para assinar no Rio de Janeiro, infelizmente - eu CONCORDO com o Boechat. Que porcaria!

QUE PORCARIA de país é este em que os ônibus (principal meio de transporte escolhido pela PORCARIA de nossos gestores públicos, há décadas) não sofrem fiscalização e há veículos "rodando" há 22 anos? P. 3

QUE PORCARIA de país é este que não sabe mais formar médicos e engenheiros, a ponto de ter que importá-los? P. 4

QUE PORCARIA de país é este em que as contas de um partido (no caso, o PT) serão julgadas somente DEZ anos depois? P. 5

QUE PORCARIA de país é este em que frotas “suplementares” (leia-se ônibus-piratas) lucram absurdos também sem fiscalização? P. 8

QUE PORCARIA de país é este em que o povo tem que invadir a “casa do povo” (Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro) para lavá-la? P. 9

QUE PORCARIA de país é este em que o povo tem que fazer vigília na porta da casa do prefeito e do governador para mostrar que existe? P. 9

QUE PORCARIA de país é este em que os professores precisam entrar em greve para se fazerem ouvir? P. 10

QUE PORCARIA de país é este em que uma pessoa é “detida para averiguações” e não volta mais para casa? P. 11

QUE PORCARIA de país é este em que o patrimônio histórico-cultural da ÚNICA cidade imperial de todo o continente americano – Petrópolis – está à beira da ruína? P. 13

QUE PORCARIA de país é este em que nada muda? O sociólogo baiano Alberto Guerreiro Ramos, no seu livro “O problema nacional do Brasil”, de 1959, já afirmava que “nossa situação política é definida pela crise de representatividade dos quadros partidários e governamentais... desligados da atividade prático-concreta do povo”. P. 14

QUE PORCARIA de país é este em que os hospitais universitários faliram e ruíram, não sendo hoje mais opção de tratamento ou de treinamento? P. 18

QUE PORCARIA de país é este em que não há saneamento básico (631 municípios tratam menos de 10% do esgoto recolhido)? P. 19

QUE PORCARIA de país é este em que mulheres e negros são mais de 60% entre os que estão desempregados há mais de um ano? P. 21

QUE PORCARIA de país é este em que um ex-bilionário caloteiro é festejado em notícia porque “ainda consta” do anuário dos homens mais ricos do mundo? P. 22

QUE PORCARIA de país é este em que a diplomacia se curva aos Estados Unidos e ao Reino Unido diante de graves e repetidas violações dos direitos civis de seus cidadãos? P. 27

QUE PORCARIA de país é este que dá, barato, um seu cidadão ilustre, morto no exercício do mais alto cargo de direitos humanos da ONU? P. 28

ESTA PORCARIA DE PAÍS, INFELIZMENTE, É O BRASIL!
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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Quem vai tirar as crianças da sala?

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Toda produção artístico-cultural popular tem grande audiência. Por isso é popular. 

Se a população tem pouca instrução (educação básica) e cultura (acesso a outros repertórios, algo que só a família e a escola podem fazer), os meios de produção têm que circunscrever seus produtos a esta audiência.

Todos percebem uma modificação do próprio "padrão global" na última década, quando da ascensão das "novas classes médias", C, D, E, F, G, H. O apelo aos baixos instintos também pulula na França, nos EUA, na Dinamarca. O baixo nível da TV aberta é um fato universal. O BBB é multinacional.

Por que se demoniza a Globo? Muda de canal!

Há, porém, um ponto a ressaltar: a falta de concorrência proporcionada por uma legislação podre de velha (nosso marco regulatório da comunicação é de 1962), que permite concentrar 50% das verbas publicitárias em apenas UM conglomerado da indústria cultural (vale a pena recorrer a Adorno, que não é enfeite) - fato ÚNICO no mundo, nos países muito desenvolvidos e nos menos também.

E é este o cerne da crítica ao status quo da nossa mídia, proporcionado não por outros que não nossas "excelências", os políticos profissionais, que, aliás, pela Constituição Federal, não poderiam ter rádios e TVs, mas as possuem por meio de "laranjas", usando-as indiscriminadamente, não obedecendo o que a CF de 1988 também prescreve em seus Artigos específicos para Comunicação e para Cultura.

Quanto a "mudar de canal" - o óbvio conselho do Merval Pereira, seria preciso que as milhões de crianças que ficam "presas" em seus barracos a tarde inteira, tivessem ali a presença de pais ou responsáveis para fazê-lo. Mas os mesmos estão pendurados nos transportes urbanos correndo atrás do pão de cada dia, fugindo dos tiroteios que seus filhos assistem "ao vivo" até que eles cheguem para assistir, juntos, a "mais um campeão de audiência".

E como diria o William Homer Simpson Bonner: boa noite!
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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

NÃO PASSARÃO!

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E as "Organizações" já colocaram seus "campeões de audiência" para desqualificar "o" fato comunicacional da semana: a entrevista de dois "medianinja" no Roda Viva da última segunda-feira.

Ora, a grande razão para a mídia tradicional (estenda-se este tópico a toda a indústria cultural) estar falindo, ano após ano, a ponto de Jeff Bezos - um mago da web - comprar o Washington Post por 250 milhões de dólares ("na bacia das almas"), é a estrutura nababesca em que a mesma se transformou, começando e terminando por salários estelares e mordomias sem fim para o "cast". Inclua-se, claro, os queridinhos e queridinhas do mais novo segmento da indústria do entretenimento: o jornalismo (segundo a ESPM, que, como se sabe, é - agora - "jornalista" desde criancinha).

Três dos maiores nababos da nave-mãe puseram a rodar o mesmo filme, "Detona Ninja", em seus espaços.

(1) Começo as citações por KOGUT, P.: "O Roda-Viva com Bruno Torturra e Pablo Capilé, da Mídia Ninja, teve média de 1,4% de audiência... Esse número, entretanto, não é alto: para o leitor ter uma ideia, um ponto de audiência de TV no Ibope equivale a 62 mil domicílios em São Paulo". Muito didático, grato. Então, tá. Ninguém viu. Por isso o "link" aí, a seguir.

(2) Na trincheira, também está XEXÉO, A.: "Desafio qualquer espectador do 'Roda Viva'... a jurar que entendeu o discurso da dupla (NINJA)... Se este é o melhor exemplo de 'nova mídia', nosso futuro é tenebroso". Sutil, esse grande tradutor de Janete Clair, que, claro, quer juras de amor.

(3) Encerra esta "primeira bateria", a soldado RÓNAI, C.: "Não vejo o mundo dividido entre 'mídia clássica' de um lado e 'mídia ninja' de outro... fico com a sensação amarga de que algo está fora do meu campo de compreensão quando vejo os ninjas filmando os jornalistas da mídia tradicional sendo agredidos e enxotados das manifestações sem fazer um só gesto em sua defesa". Deve ser mesmo difícil entender que a "mídia ninja" quer ser parte do povo - que está farto do pastiche (recheio do quarteirão-com-queijo de novelas) "boa noite" da dupla BONNER-POETA - e não da 'intelligentsia' a qual Adorno - que não é enfeite - descreveu como a classe "dos gerentes muito bem pagos da indústria (massiva) de imaginário".

O MINISTÉRIO DA EDUCOMUNICAÇÃO ADVERTE - GANHAR UM BOM SALÁRIO POR ANOS NA MÍDIA TRADICIONAL FAZ MAL À SAÚDE MENTAL DOS EMPREGADOS. ELES FICAM IGUAIS AOS PATRÕES. Veja:



RODA-VIVA DE 05/08/2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

QUAL NOTÍCIA VOCÊ QUER OUVIR PRIMEIRO?

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Depois da má notícia de ontem ["Publicis (francês) e Omnicom (estadunidense) confirmam fusão de US$ 35 bilhões"], a boa notícia de hoje: "Megafusão publicitária pode esbarrar em leis anti-truste" (O Globo, página 30).

Tim Wu profetiza...

Felizmente algumas vozes se levantaram contra este terrível - e quase terminal - ato da insânia capitalista. Se hoje temos apenas três grandes players (o terceiro é o grupo britânico WPP) na comunicação comercial (leia-se propaganda + relações públicas + patrocínios + promoções de marketing + marketing digital), isto de deve à onda de fusões e aquisições que varre o mundo desde o final dos anos 1970.

Big Crunch.

Impressiona, até, que ainda não haja, depois do tsunami concentracionista, monopólios por toda a cadeia produtiva da comunicação. É um verdadeiro milagre - devido à graça da legislação anti-truste - que ainda tenhamos três grandes redes de TV comercial nos Estados Unidos (excluo desse rol a CNN e a Fox News, por uma razão óbvia - o seu modelo all news.

Os clientes que se... cuidem!

No Brasil, como sempre, o buraco é mais embaixo. Ou seja, estamos cada vez mais no fundo do poço. Os tempos dourados que Regina Augusto tão bem retrata quando conta, em livro, a trajetória da antes poderosa MPM, definitivamente acabaram. As agências brasileiras todas já sucumbiram ao dólar e ao euro. E estão, sempre, debaixo de um dos três guarda-chuvas gigantes...

O resto é boutique de criação...

Acompanhe essa discussão no Observatório da Comunicação Institucional.

Siga o tema por este link.
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segunda-feira, 27 de maio de 2013

O GLOBO - PROJETOS DE... MUITA GRANA.


E o domingo nos brinda com mais uma edição de O Globo, na soleira da porta. Coisa antiga...

Além de toda a propaganda dominical – o percentual de “conteúdo jornalístico” é mínimo – a edição de ontem traz um caderno (inteiro!) intitulado “Rio em Transformação”.

Que bonito é...

Será um pássaro, um avião, uma reportagem, um editorial? Não. É só o departamento comercial do veículo fazendo jornalismo de faz-de-conta em sua inefável “retranca” PROJETOS DE MARKETING (assim mesmo, em caixa alta)!

Há muito tempo O Globo publica esses cadernos – uma evolução (em termos de receita para o veículo, mas involução na prestação de serviços e na ética para com os leitores) do batido modelo “Informe Publicitário”.

Por que batido?

Porque este é o nome quase cinquentenário do tipo de técnica que os jornais utilizam para publicar algo do interesse de outrem (uma empresa) em suas páginas, não declaradamente um “anúncio” – algo travestido em “matéria”, mas inteiramente escrito e produzido pelo anunciante. O destaque (um fio gráfico em volta, a tipologia diferente ou o texto-título “Informe Publicitário”) é obrigatório.

E O Globo – quem mais? – inovou! E, de tempos em tempos, nos entulha com este calhamaço de papel entintado.

E presta, mais uma vez, um desserviço chamando o “Informe Publicitário” de “Projeto de Marketing”.

Isto não é marketing. Qual é o “produto”? Qual é a praça? Qual é o preço? Qual é a promoção? Projeto de quê? Marketing de quê? Da cidade? Do veículo? Sim, do veículo, porque é a única coisa que pode estar à venda nessa transação mercadológica. Autopromoção muito bem cobrada.

E qual é o “babado” desta vez?

Surpresa! É o alcaide do Rio de Janeiro, genuíno herdeiro de Cesares, fazendo propaganda mais-do-que-antecipada de seus feitos. Com fotos caprichadas, textos orgulhosos, títulos exclamativos, slogans convincentes! Se o “leitor” é analfabeto, não tem importância. A enxurrada de imagens deixa o mais descrente infeliz convencido de que mora no paraíso terrestre...

“Meu” Rio...

Já na capa, uma foto de mais um “empreendimento” carioca adotado pelas Organizações Globo, o MAR (Museu de Arte do Rio). Sim, aquele mesmo do capítulo final da novela... na “matéria” intitulada “Além dos tapumes”. Na quarta capa, o título garrafal é “A hora e a vez da zona norte”!
E vão-se sucedendo “manchetes” bombásticas. Parece até a “escalada” do Jornal Nacional: “Uma cidade interligada”, “Transporte público de alto desempenho para todos”, “A joia do subúrbio”, “Cariocas reencontram sua história”, “Nova rotina para pais e alunos”, “Legado olímpico e social”, “Centro de operações pronto para o desafio”, “Cresce a cobertura básica de saúde”.  Ufa!  É muita “notícia” boa. Será que o “leitor” não desconfia?

Quanto terá custado o caderno de oito páginas?

Nunca menos de 1,5 milhão de reais. Mixaria para a prefeitura! Não daria para fazer meio-posto de saúde, ou meia-calçada, ou meia-creche. Que se gaste em mídia, então. E nem precisa licitar – o Rio só tem um jornal de “grande” circulação...

E as “Organizações” agradecem. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Aura da Alemanha no Brasil, 70 anos depois.

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O que os constituintes promulgaram em 1988 sobre Comunicação e sobre Cultura é letra morta. É preciso, em todas as instâncias em que podemos nos pronunciar - salas de aulas, ONGs, a web - fazer a denúncia deste desastre nacional - o emburrecimento programado das pessoas, individualmente, e das comunidades. Não há paralelo em todo o planeta. O que de monstruoso Adorno, Benjamin e Horkheimer temiam, analisando o que o rádio e o cinema fizeram na Alemanha sob o Terceiro Reich, está aqui, agora, no Brasil, sob as Organizações Globo. No Rio de Janeiro, então, não há a mais pálida fresta para outros ares. A rua, a chuva e a fazenda respiram os gases nobres - e pobres - produzidos em série com requinte pós-industrial. Vale a pena ler um "extrato" daqueles três autores, mais Eco de duas décadas mais tarde, para entender a atualidade do aviso de Frankfurt, expedido em 1944: http://www.marketing-e-cultura.com.br/website/teoria/teo001-b.php?cod_artigo=26.

De hoje, postado no Facebook por Nelson Moreira, que compartilho:

A TV e sua opinião, por Silvio Caccia Bava

Em 2011, 59,4 milhões dos domicílios brasileiros tinham televisão, o que equivale a 96,9% do total. De longe, a televisão é o meio de comunicação mais difundido e utilizado.

Em fevereiro passado, segundo o Ibope, as maiores audiências da TV foram as novelas, os reality shows (BBB Brasil e Fazenda de Verão), o Jornal Nacional, a segunda edição do noticiário e os programas de auditório. O futebol das quartas-feiras fica apenas em nono lugar.

A liderança de audiência da Globo é impressionante: são dela os 47 programas mais vistos da TV em 2012. E, se considerarmos o horário nobre, suas três principais novelas estão entre as dez atrações de maior audiência, tendo à frente Avenida Brasil, superando inclusive o BBB Brasil, o reality show mais popular. Ainda segundo o Ibope, o Jornal Nacional é o vice-líder absoluto da emissora. Essa situação configura, virtualmente, um monopólio privado da informação.

A televisão é o meio de comunicação pelo qual se informa o maior número de pessoas. E muitos só se informam pela televisão. Não leem jornais, revistas. Sua opinião, portanto, é formada com base nessas informações. Sempre por trás de uma mensagem há alguém que a envia, e devemos nos perguntar por que esse alguém nos envia essa mensagem e por que neste momento. A sincronia, por exemplo, entre a ampla divulgação do julgamento do mensalão com as últimas eleições é uma dessas questões.

A televisão brasileira, embora seja uma concessão pública, está nas mãos de poucos grupos que defendem interesses privados − seus interesses são os interesses do mercado, são os interesses das elites, alinhados desde os anos 1990, pelo menos, com a doutrina neoliberal. Promovem os valores do individualismo, da competição, do sucesso individual. Se você não consegue esse sucesso, a culpa é sua, não tem nada a ver com a estrutura da sociedade e com o fato de que a economia só favorece os grandes.

A televisão reduz os cidadãos à dimensão de meros consumidores. Não há análises de contexto, os fatos não se inscrevem em lógicas mais amplas. Quando há programas de debates, estes são em altas horas, não são para as massas. E mesmo assim os debatedores, em sua ampla maioria, se alinham com os interesses das emissoras. Seus noticiários destacam o crime e a violência, disseminando o medo na população e fazendo que esta aceite um mundo de arbitrariedades no qual, por exemplo, a polícia executa sumariamente “suspeitos”, consagrando a pena de morte na prática, sem qualquer julgamento, o que identifica o Estado não só como cúmplice dos crimes, quando não como os próprios agentes da violação de direitos, mas também como legitimador desse discurso televisivo. Se esses comportamentos se apresentam como a única solução, se temos visões parciais, distorcidas, dos fatos, provavelmente teremos opiniões equivocadas sobre eles.

Ao dar destaque à violência urbana e à criminalidade, a TV induz o público a demandar mais segurança, mesmo à custa de políticas que se formulam em prejuízo da liberdade e do respeito aos cidadãos, como a ocupação militar de territórios da cidade.

Os meios de comunicação vivem uma relação promíscua com o poder político e o poder econômico. Basta ver quem detém as concessões, por exemplo, das estações retransmissoras das principais redes televisivas, distribuídas, em grande parte, para as oligarquias e lideranças políticas regionais. Seu objetivo não é mais servir à sociedade, mas se servir dela para alavancar interesses privados, para alavancar os negócios, para reproduzir as elites no poder.

Há uma combinação de espetáculos – as novelas, os reality shows, os programas de auditório, o futebol – que desvia a atenção do público dos problemas importantes, tornando-o distante dos problemas sociais, com uma seleção e uma interpretação do que são as notícias que merecem sua atenção.

A cultura imposta pela televisão tem tal influência que nos encontramos, muitas vezes, pensando na mesma linha. E não há como responsabilizar somente a TV por essa situação − a doutrina neoliberal, na verdade, se impregnou por toda parte. Nós a vemos nas próprias políticas de Estado. Seus valores se contrapõem à democracia, ao respeito à diferença, ao reconhecimento de uma sociedade plural. Eles promovem o sectarismo e uma polarização entre o bem e o mal, em que tudo que não se ajusta à sua doutrina é considerado condenável e é criminalizado.

Em vários países da América Latina esse império das comunicações está sendo questionado por governos democráticos, como na Argentina, no Equador e na Venezuela, e essa mesma mídia conservadora os desqualifica, os criminaliza, buscando garantir a continuidade de uma interpretação da história e dos acontecimentos cotidianos que só serve aos seus interesses.

A TV é um bem público, assim como a informação. Ela deve servir aos interesses da sociedade, não aos interesses do mercado; ela não pode estar a serviço de uma doutrina que, para maximizar o lucro, viola sistematicamente os direitos dos cidadãos. E para sustentar a defesa do interesse público, da democracia, é preciso que cada um de nós se interrogue se a programação que temos hoje na TV brasileira é a que melhor atende aos nossos interesses.

Silvio Caccia Bava é diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique.
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sábado, 11 de maio de 2013

UM NOVO PONTO "G".

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ALERTA AOS QUE QUEREM UMA IMPRENSA MAIS JORNALÍSTICA E MENOS JORNALISMO DE ASSESSORIA!

Aprovado o projeto de Resolução que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Jornalismo, bacharelado, (veja 'post' e 'link' abaixo), faltando, apenas, a sanção ministerial.

A Comissão que tratou do mesmo tema para Relações Públicas, junto ao MEC, deveria posicionar-se CONTRÁRIA à seguinte redação do Artigo 4o., Item "G" : INCLUIR, NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL, AS ROTINAS DE TRABALHO DO 'JORNALISTA EM ASSESSORIA' A INSTITUIÇÕES DE TODOS OS TIPOS.

Uma das mazelas - senão a pior - do jornalismo brasileiro (e das relações públicas brasileiras, por consequência) é o imoral exercício das duas profissões pelo mesmo indivíduo, ao mesmo tempo.

O conflito de interesses dispensa mais comentários, pois é conhecido de todos. O mais tosco dos cidadãos compreende que um jornalista a serviço de uma empresa, promove-a nas páginas, no ar, e no ciberespaço da imprensa, desservindo a isenção, a democracia, aos cidadãos, à própria imprensa como instituição e à cidadania corporativa, sempre colocada sob suspeição a partir do exercício de tráfico de influência.

Não existe - há muito tempo (como prova a modificação da denominação da Aberje) - "jornalismo empresarial".

JORNALISTA É QUEM TRABALHA EM VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO.
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segunda-feira, 6 de maio de 2013

E eles fizeram de novo!


Mais uma vez O Globo presta um desserviço aos seus leitores e à inteligência nacional!

A matéria de hoje, à página 23 - seção Mundo - estampa uma foto do inimigo público número 1 dos Estados Unidos - Kim Jong-un - em um auditório repleto dos puxa-sacos de sempre.

A manchete:

MARKETING NA CORÉIA DO NORTE (assim mesmo, em caixa alta): A verdade segundo Kim Jong-un. O subtítulo: Ditador manda boletins eletrônicos para melhorar a imagem de seu país no exterior. E-mails são enviados à imprensa internacional sempre que o líder diz "algo relevante".

A matéria vai em frente criticando o uso e o abuso das imagens e dos textos pré-fabricados.

Mas o quê dizer do discurso em causa própria (textos - e imagens - pré-fabricados) que as próprias Organizações Globo fazem em seus "n" veículos, pelo país todo? E sem pagar pelos "espaços", em centímetros/coluna ou minutos "no ar" -, numa contabilidade "inter-companhias" - o que é, no mínimo, concorrência desleal em seus nichos de mercado.

O Rio de Janeiro chega a ser uma espécie de Pyongyang em termos de comunicação e pensamento únicos. É museu patrocinado, é museu em construção, é apoio a museu. Roberto Marinho: patrono da museologia brasileira. Múmias das múmias!

Muito marketing - sim, mas com incentivos fiscais, isenção de impostos, importação de equipamentos mal explicada e monopólio da audiência e das verbas de propaganda.

Usamos, acima, o termo marketing tão erroneamente quanto O Globo, de propósito. Isto para lembrar que um grupo empresarial que tem ótimos profissionais da matéria não devia enxovalhar a disciplina confundindo-a (e a seu público "cativo") com "propaganda enganosa", que é o que se quis dizer na notícia sobre o ditador norte-coreano, a quem o jornal chama de marqueteiro... ora marqueteiro é o conglomerado global.

Não é a primeira vez...

... e não será a última, mas o Offbudsman estará aqui para lembrar, mais uma vez, que eles o fizeram, de novo...
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sexta-feira, 5 de abril de 2013

VALE A PENA VER, OUVIR E LER!

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É PARTIDÁRIO. MAS É, TAMBÉM, GAÚCHO. Por conta dessa 'soma zero' em termos maniqueístas, vale a pena ouvir desapaixonadamente um posicionamento claro, objetivo e necessário sobre o tema "liberdade de expressão no Brasil", hoje.
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quarta-feira, 3 de abril de 2013

MOVIMENTO "Ética... inteligência... e português na propaganda brasileira".

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ANUNCIANTE, já teve publicada a sua asneira de hoje?

Não sei não, mas a propaganda está precisando de uma ajudinha "de fora" para evitar besteiras e o consequente "mico" dos clientes. Vamos combinar que a "aprovação" que o gerente ou diretor dá ao anúncio (que o coloca nos palcos, junto com o publicitário, recebendo prêmios), não é objeto de muita reflexão. É tudo "pra ontem". Quem vai ser louco de "reprovar" o anúncio prontinho, "filmless", que já está pronto para entrar na rotativa do veículo, para a edição de amanhã? - Só porque ele é péssimo?

- Ah, o povo não sabe ler mesmo...

ISTO ME VEM À MENTE quando deparo-me com duas verdadeiras "pérolas" numa só edição - a de hoje - d'O Globo:

(1) Anunciante: Hipermercados Extra (agora sob nova direção). Anúncio de... 4 páginas!!! Qual o mote? Criação do Shopping Mercado... deve ser a nova direção - francesa - da casa que faz seus publicitários derraparem impunemente no inglês e no português unidos para sempre nessa asneira sem tamanho.

Como picha aquele movimento, "shopping mercado é o cacete".

(2) Anunciante: X3M Sport Business (deve ser uma empresa com controle estrangeiro, que nem o Extra). Qual o mote? Está lá: "a X3M é uma empresa de negócios esportivos que busca a integração das 3 áreas essenciais para o desenvolvimento de um projeto de sucesso - Mídia, Marketing e Management...".

Ai, ai... talvez o controle desta empresa seja francês, ou italiano, sei lá, alguém meio avesso ao idioma do bardo Shakespeare.

Offbudsman adverte: asneira publicitária faz mal à saúde mental... e ao bolso: do anunciante, da agência e dos pobres leitores.
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sexta-feira, 22 de março de 2013

Quando a propaganda é a alma... do engano.

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Como uma onda no mar...

Antes da atual onda de corrupção via "mídia" (explico: com Marcos Valério e Duda Mendonça descobriu-se um ramo de atividade pródigo em alternativas para "recursos não-contabilizados", à la Delúbio - a propaganda). Antes, o segmento predileto das maracutaias era o das empreiteiras.

Na liderança delas todas, a baiana (como Duda), Odebrecht. 

É mais fácil dizer que a criação de um comercial para o partido "Tal" custou 1 milhão de reais - e até colocar isso numa nota fiscal válida - do que relatar-se uma despesa com material e mão-de-obra do mesmo milhão de reais numa ponte... que não existe. Sei que este tipo de corrupção "antiga" ainda grassa, mas - vamos combinar - a "nova" dá menos trabalho. Pelo menos, não precisa ir até a cidade de Onde-o-Judas-perdeu-as-botas para fotografar a ponte que vai de nada a lugar-nenhum...


Agora tem a onda do greenwashing...

E quem está lá, surfando a onda? A mesma Odebrecht, agora com vários nomes diferentes, como no anúncio de página inteira (a de número 7) publicado no dia 21 de março, n'O Globo, sob a égide da - poética - Odebrecht Ambiental... parece piada... lembrando-nos que ontem, 22/03, foi o Dia Mundial da Água, com a sugestiva chamada "Dia Mundial da Água. Para todo mundo é amanhã. Para nós é todo dia". Palmas para os redatores publicitários!

And the winner is...

Devia existir um troféu Cara-de-Pau para os contadores de mentiras deslavadas produzidas pelas organizações e empurradas goela-abaixo da população via mídia - e cara mídia (a mais cara do mundo, em dólar), e, ainda, isenta de impostos!

E não é que hoje, a corporação Odebrecht voltou à carga?

E publicou uma sobre-capa - ou seja - quatro páginas inteiras, no caderno RioShow, do mesmo jornal (escrevo do Rio, terra de um jornal relevante só), provocando furor para mais uma realização - e mais uma marca - desta vez, a da Odebrecht Realizações... (sabe-se lá que realizações são - e foram, em décadas - essas...), agora alcunhadas, conforme o texto do anúncio, de um "presente" para o Rio de Janeiro: montes de torres de vidro e aço no projeto de Porto-Maravilha do "seu" Eduardo - Maia - Paes. Haja criatividade! Publicitária e contábil.

Mais um escárnio. E tome liberdade de expressão e de imprensa! De se exprimir inverdades e de se imprimir sem qualquer regulação... ou pudor.
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quinta-feira, 7 de março de 2013

De ontem. De novo.

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E atenção! Agora a nota "quarteiriza" a fonte... esses caras se aperfeiçoam no erro...

Como se já não bastassem os exemplos que o Observatório da Comunicação Institucional (OCI) tem trazido à tona sobre o jornalismo de assessoria que grassa entre nós, no Brasil, agora surge uma inovação (palavra da moda): a "quarteirização" da fonte.

É mais ou menos assim: a fonte "a" disse "z" - o que muito incomodou "x" e seus pares. Diante do "estrago", "b", assessor de "a", um terceirizado, resolve - e nunca saberemos se de acordo com "a" ou não - "soltar uma nota" (chronica inflationes) desmentindo o ocorrido, mas assinando em seu próprio nome ("b") e não da fonte que representa, "a". Uma "quarteirização" enviesada.

Credibilidade pública (o que é isso?)

Então estamos combinados assim: "b" é bom moço e desdiz o que quem realmente interessa disse. E fica o dito pelo não dito, pois "b" tem credibilidade - e acesso (ou será só acesso?) aos media e consegue publicar a sua versão do fato, sendo "tido como" representante "direto" da fonte. E, então, como num passe de mágica, a realidade muda, e "a", que nunca se arrependeu ou se desculpou, fica "bem na foto" (impressa, falada, televisada, internatizada). E ponto.

Ótimo - e prático! - jornalismo esse, de nota e fim de papo.

O Observatório da Comunicação Institucional adverte: jornalismo de notas faz mal à saúde da cidadania.

Saiba mais:

Fato (como noticiado n'O Globo de 06/03/2013): o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, recomendou que um repórter do jornal "O Estado de S. Paulo" fosse "chafurdar no lixo". Em seguida, o chamou de "palhaço".

A quarteirização das desculpas: Na nota divulgada, o secretário de comunicação do STF pediu desculpas e disse que o comportamento de Barbosa era isolado, pois ele teria um relacionamento positivo com a imprensa como padrão. "Em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, peço desculpas aos profissionais de imprensa pelo episódio ocorrido hoje, quando após longa sessão do Conselho Nacional de Justiça, o presidente, tomado pelo cansaço e por fortes dores, respondeu de forma ríspida à abordagem feita por um repórter. Trata-se de episódio isolado que não condiz com o histórico de relacionamento do ministro com a imprensa", diz [sic} a nota.

O COMENTÁRIO DO OCI - Marcondes Neto

OK, vocês venceram! O ministro é uma seda, sempre foi uma seda e será sempre uma seda. Aconteceu rigorosamente nada e por isso o ministro não tem do quê se desculpar. Só eu, secretário de comunicação, que estou pedindo desculpas, talvez por... existir.
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quarta-feira, 6 de março de 2013

Jornalismo "de notas" é doença que vitima a cidadania.


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O tema é recorrente. E a discussão torna-se aborrecida. Mas é preciso pontuar o mal cada vez que ele aparece.

Jornal O Globo, terça-feira, dia 05/03 (P. 11).

Título da notícia: "Carro furtado é encontrado com policial".

Subtítulo: "Dono seguiu veículo e viu motorista entrar no batalhão da Tijuca".

Lead: "Depois de passar quase dois anos recebendo em casa multas por excesso de velocidade com [sic] o seu carro furtado, o técnico de áudio e vídeo José Florisval, de 37 anos, decidiu ficar de tocaia junto ao radar onde [sic] as infrações eram cometidas e, na manhã de ontem, flagrou seu veículo dirigido por um homem. Ele seguiu o veículo até a Tijuca, onde o motorista parou em frente ao 6o. BPM (Tijuca) e entrou no batalhão. Em nota [começa aqui o nosso 'case'], a PM confirmou que um policial estava com o automóvel e disse que vai investigar o caso".

Resumo da ópera: o carro fora colocado à venda numa loja de carros usados de propriedade de um notório estelionatário, que a fechou sem dar satisfações a ninguém, inclusive à vítima, neste 'case'. O ex-dono recebia multas e quando deu o "flagra" ligou para o 190, telefone de emergência da PMERJ, e segundo a Polícia Civil, "em nota", "o Peugeot de José foi repassado a outra pessoa ' sem que a documentação fosse regularizada'." Detalhe: o dono da loja tem 16 mandados de prisão expedidos contra [sic] ele por estelionato e apropriação indébita.

Agora o 'grand finale':

Em nota, a Polícia Militar confirmou que um PM [sic] estava com o veículo "como forma de compensação por uma venda de carro em mau estado". E a "nota" continua: "É possível que o policial tenha sido igualmente prejudicado", informou [sic] a corporação. Fim da notícia: A Polícia Militar disse que o comando do batalhão vai investigar porque o PM continuava com um carro em nome de outra pessoa, com IPVA atrasado e várias multas.

Nada mais é preciso acrescentar. Talvez apenas uma pequena ajuda deste escriba à investigação do porquê o PM continuava com um carro em nome de outra pessoa...

O PM continuava (talvez por dois anos) com um carro de outra pessoa porque isto é assim mesmo no Brasil e os incomodados que se mudem.
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Gato por lebre? Não. Cavalo por boi.


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A incrível notícia, dada ontem pela Globo News, é mais um exemplo do que se tornou o jornalismo no Brasil. O jornalismo "de assessoria", o jornalismo "de notas".

Um fato grave acontece. O que faz a mídia (dita "quarto poder"...) em "defesa" da verdade factual? Contrata uma análise no Instituto Adolfo Lutz e desmascara a JBS? Manda um repórter "in loco" (longe, né, mas quê fazer?) ? Não, simplesmente publica "notas à imprensa" de seus belos (e gordos) anunciantes, produzidas por suas belas (e caras) assessorias.

Vide a "notícia" como dada ontem na TV: "A Nestlé comunica que seu fornecedor é a JBS. A JBS comunica que utilizou material de outra empresa sua fornecedora no lote despachado para a Nestlé". E pronto! Fim da "notícia". Fim da "reportagem". Nem um comentário. Nem uma análise.

Vamos acompanhar, a partir de hoje, a continuação da "guerra de notas"... e o pobre do leitor, ouvinte, telespectador e internauta engole essa gororoba todo dia, como isto jornalismo fosse, sem saber como se resolve o problema das pessoas que ingeriram cavalo por boi.
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Nossos comerciais, por favor!


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Será que não existe um só católico praticante nas redações da Folha e do Estadão? 

Ambos os veículos publicaram – além da mesma foto de capa - a mesmíssima “análise” sobre o sermão de Bento XVI em sua última missa pública como Papa.

Ambos os jornalões – melhor seria chamá-los, nesse caso, de papelões – publicaram, mais ou menos isso:

“... o Papa criticou os hipócritas que atrapalham a Igreja como instituição que precisa continuar sempre crescendo...”. E deitaram peroração sobre intrigas, traições e ardis nos bastidores da Santa Sé...

Será que ninguém teve a curiosidade de apurar (importante verbo do jargão jornalístico) e pensar um pouco se o tema abordado pelo Papa fora desabafo e clamor por compreensão ao seu ato de renúncia ao poder (como cravaram nas suas manchetes), ou se não seria (como foi, e é, e será, sempre) o mero repetir da ‘palavra’ da Igreja aos fiéis naquele domingo, naquele semana?

Se os batalhões de repórteres enviados a Roma tivessem um mínimo de tino jornalístico (do tipo genuíno – não aquele mal ensinado e nunca aprendido em faculdade) ou um mínimo de cultura; saberiam que as leituras propostas pela Igreja Católica, ao mundo inteiro, nas missas do início do período quaresmal, são típicas e recorrem, sempre, às mesmas passagens bíblicas, como consta dos missais distribuídos, tanto na Basílica de São Pedro, em Roma, quanto na singela paróquia de Morungaba, estado de São Paulo, onde ouvi as mesmas passagens, lidas por membros da comunidade e comentadas, na homilia, pelo pároco local:

“... quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens... quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens... quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando...” (trecho do Evangelho segundo São Mateus).

O jornalismo é tão mais tosco quanto tosca for a audiência. Utilizar uma interpretação fora de propósito para produzir manchetes em letras garrafais é recurso para vender jornal tão ruim quanto escancarar fotos sanguinárias na primeira página – hipocrisia tão “adotada” pelos jornalões de quinta categoria que no Brasil vêm sendo publicados... por obra e graça, claro, de nossos queridos anunciantes.
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Tem mas acabou!... Passa ontem!... Me erra!

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Lembrando Canclini, duas ocorrências envolvendo "consumidores e cidadãos" no último fim de semana, merecem destaque por aqui:

PRIMEIRA

Uma notícia veiculada pela Band News no sábado à noite, dava conta de um passageiro da companhia aérea GOL, procedente do exterior, com destino a São Paulo e parada forçada, antes, no aeroporto internacional Tom Jobim (pobre maestro, com essa tralha atrelada a seu santo nome), que teve sua bagagem violada e pertences furtados.

Depois de toda a via crucis a que esteve sujeito, entre Infraero, PM e Gol - todos preguiçosos e inapetentes para socorrer o pobre consumidor - o dito cujo fez um desabafo nos microfones, até muito educado, relatando o cansaço de um dia inteiro de jogo-de-empurra entre "autoridades" para algo que, sabe de antemão, de nada adiantará...

Conclusão da matéria, na fala da repórter, mais ou menos assim:

- Procuradas pela nossa reportagem, Infraero e Gol "disseram" que só podem manifestar-se sobre o ocorrido "através" de suas assessorias de imprensa, as quais só "funcionam" de segunda a sexta-feira...

O que não "funciona", nesse caso, são as relações públicas dessas duas campeãs de desrespeito ao cidadão: Infraero e Gol.    

SEGUNDA

Matéria do programa "De Bem", no GNT, domingo à noite, mais ou menos assim:

- "Conheça o Paulo": ele já tem tantos anos e ainda mora com a mãe, Dona Fulana, que apesar de gostar de ter o filhão por perto, quer muito que ele tome um "rumo" na vida...

Fala o "Paulo":

- Estou estudando para um concurso aí, você sabe, às vezes mais, às vezes... não estudo nada. Concurso pra fiscal. Teve ano passado, esse ano não se sabe se vai ter... eu fico nessa - a gente tem que ser feliz...

COM UM FISCAL DESSES... TEMOS UM PAÍS "DAQUELES"

Será que ninguém percebe, na inocente matéria do "De Bem", que é esse tipo de gente, sem eira nem beira, que vai fiscalizar absolutamente TUDO neste país? Receita estadual, as eleições, condições sanitárias, de segurança, eletricidade, qualidade da água, transportes aéreos, e quem sabe, até produção de energia nuclear?

Na próxima vez que você ouvir de alguém que "está fazendo concurso pra qualquer coisa", denuncie, escreva, dê um conselho... Faça qualquer coisa para explicitar esse absurdo tão "nosso" - brasileiro, profissão concurseiro.
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sábado, 12 de janeiro de 2013

Mais um atentado contra a transparência.

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A 'cara' do Brasil, a 'cara' do PMDB, a 'cara' do Rio sob o PMDB, a 'cara' do 'filho de Cesar', Eduardo.

Ditadura é pouco!

Notícia velha, de ontem: li estarrecido, que ao fotografar os problemas no teto do túnel da Grota Funda - orgulho de empreiteiras e empreitadas eleitorais -, a auxiliar de engenharia da própria empresa construtora teve sua câmera tomada das mãos pelo secretário municipal de conservação - que recusou-se a dar explicações à imprensa - e não recebeu a câmera de volta!

A prefeitura do Rio mentiu deliberadamente sobre as razões da interdição do túnel, alegando 'problemas elétricos' e omitindo e existência de uma cratera de mais de 3 metros quadrados no teto de uma de suas galerias.

A empresa atendeu a imprensa e 'disse' que 'as obras foram entregues antes do prazo previsto, a pedido da própria prefeitura, que queria inaugurá-las antes das eleições'.

Notícia fresca, de hoje: após 35 horas, a prefeitura admite a existência de uma fissura na rocha (a culpa agora é de Deus, ou pelo menos do planeta Terra), problemas geológicos 'e não a erro de execução'...

Segundo especialista consultado: ' a formação argilomineral, que pode ser a causa do problema, deveria ter sido prevista antes (sic) da obra'... de, aliás, 500 milhões de reais. É preciso acrescentar mais alguma coisa?

A montanha vai despencar sobre nós, se antes já não tivermos sido tragados pelo também condenado elevado do Joá - obra do tempo do 'nada a declarar' típico desses tempos de Paes, que só disse isso: - não existe preocupação quanto à estabilidade geral do túnel... Mesmo tipo de despreocupação que Lobão e Dilma têm com relação à possibilidade de apagão.

Chama o Cabral... não o do PMDB do Picciani, Eduardo Cunha, Sarney e Renan..., na próxima sessão espírita, e pergunta p'ra ele por que motivo - céus! - não decidiu deixar os índios aqui em paz, sem o tipo de gente 'civilizada' que acabou desembarcando aqui?
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Mais do mesmo: más notícias.

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Boas notícias são tão raras que a rádio CBN criou um programa diário só para elas... de um minuto de duração.

Noticiário de hoje:

1) Natura é autuada em R$ 627 milhões pela Receita Federal, acusada de impostos não pagos. Empresa nega irregularidades e anuncia que vai recorrer.

2) MMX, de Eike Batista, é multada em R$ 3,8 bilhões pela Receita Federal. O Fisco cobra impostos, como Imposto de Renda, que não teriam sido pagos em 2007. A mineradora contesta.

3) Prefeitura do Rio interdita siderúrgica da CSA. Empresa não tem alvará, segundo a Secretaria Especial de Ordem Pública. Multa por não cumprimento é de 570 reais por dia.

Marcada por problemas ambientais e operacionais que já lhe renderam pelo menos duas multas milionárias por parte do governo do Estado do Rio, a Companhia Siderúrgica do Atlântico enfrenta agora um entrave burocrático com a Prefeitura do Rio - por falta de "licença de funcionamento de estabelecimento", ou seja, alvará. Como se trata de medida administrativa, a SEOP informou que enviará fiscais para verificar se a empresa está obedecendo a determinação. Em caso de descumprimento, a CSA terá de pagar multa de R$ 570, 65 por dia.

Inaugurada em 2010, após quatro anos em construção (com parte da mão de obra constituída por "navios" de operários chineses ilegais), a CSA é um empreendimento da alemã ThyssenKrupp, que detém 73,13% das ações (na Alemanha tal modelo de siderúrgica não pode funcionar há décadas, por anacrônico), com a Vale, que tem os 26,87% restantes. A controladora da CSA busca compradores para a siderúrgica (que polui gravemente o seu entorno, agredindo o meio ambiente e a população) - que não apresentou resultados satisfatórios, para dizer o mínimo. A unidade havia sido planejada para atender ao mercado externo, mas foi afetada pela queda da demanda internacional por aço, a partir da crise de 2009.

4) ONU revê normas de proteção ao consumo. Brasil vai apresentar propostas de ressarcimento rápido a clientes e experiência em assuntos financeiros. As novas diretrizes da Organização das Nações Unidas vão proteger mais o consumidor no comércio eletrônico, no ressarcimento de danos e nas questões financeiras. A última atualização foi em 1999. Essas normas do organismo multilateral são uma referência internacional para o movimento dos consumidores. A Consumers International está trabalhando com seus membros para enriquecer as propostas sobre com as diretrizes podem melhor responder às preocupações dos consumidores de hoje.

Para Ricardo Morishita, coordenador do curso de Direito da FGV/RJ, medidas econômicas deveriam ser atreladas a direitos sociais: - as questões concorrenciais não estão dando conta dos problemas gerados pelo mercado e vivenciados pelos consumidores. Não se trata mais de casos isolados. Estamos em um contexto diferente de 20 anos atrás. As leis de concorrência precisam entrar mas questões estruturais da sociedade.

Morishita afirma que as medidas econômicas dos países deveriam ser atreladas a direitos sociais e de consumidores, de forma que as empresas tenham incentivos e também obrigações (especiais): - ao dar um incentivo fiscal, o governo pode atrelá-lo à manutenção do emprego, que é o lado social, e exigir qualidade nos produtos e garantia de atendimento, pois, afinal, é o consumidor que está pagando essa conta.

5) Estações fantasmas do BRT. Recanto das Garças e Dom Bosco, no Recreio, foram construídas sem que houvesse demanda. Como se não bastassem os buracos na pista, o BRT Transoeste, inaugurado pela prefeitura em junho passado como aposta para reorganizar o transporte público no Rio, conta com instalações fantasmas. Passados sete meses do início dos serviços, as estações Dom Bosco e Recanto das Garças, que ficam nos trechos menos urbanizados da Avenida das Américas, jamais funcionaram, embora já estejam (cinematograficamente) equipadas. Na Recanto das Garças, está tudo pronto. As cadeiras já estão instaladas, e as televisões, ligadas (adivinha em qual canal), mas apenas um vigia permanecia ontem no local. Ela fica a menos de 500 metros da estação "Notre Dame".

O custo médio de cada estação é estimado em cerca de R$ 1 milhão. Os gastos até 2016 devem chegar a R$ 1 bilhão com a expansão do Transoeste.

6) Recalls crescem, mas adesão ainda é baixa. No Brasil, em média, 60% dos consumidores atendem aos chamados. Veículos são os mais procurados: - se as empresas fossem responsabilizadas na área cível e criminal, a história seria diferente (Maria Inês Dolcci, coordenadora institucional da Proteste). É a reclamação à empresa - pelo consumidor - e aos Procons, a partida de muitos recalls.

COMENTÁRIOS:

O Brasil de 2013, do PAC, baseia-se em incentivos fiscais à indústria automobilística e à indústria do petróleo. Parece que estamos nos Estados Unidos de cem anos atrás, com Ford e Rockefeller (Standard Oil). Tamanho atraso, centenário, espalma-se no patrimonialismo e no coronelismo presentes na política partidária brasileira. A cidadania brasileira - a parte "antenada" e completamente integrada ao primeiro mundo - não pode se contentar com relações de consumo e de satisfações públicas tão toscas quanto as que povoam nosso dia-a-dia, vide o recorte acima, com apenas 5 "pérolas". Chamem o Ralph Nader!

Será que essas são questões de relações públicas? Este noticiário trouxe fatos que afetam - negativamente - a imagem de algumas organizações. Natura, sempre bem na foto; e CSA, quase sempre mal na foto; e uma das empresas de Eike Batista - solitário "filantropo" carioca citado nas minhas salas de aula - seriam "salvos" por boas relações públicas? Será possível, ou aceitável, administrar bem a imagem "na foto" e, ao mesmo tempo, sonegar impostos e destruir o meio ambiente? bastará uma consultoria estrelada de "gestão de crises" para contornar o problema. Ou tais organizações teriam que "cortar na carne" e resolver seus problemas para que, sem eles, pudessem posar à vontade, de "mais admiradas"? Por isso, cada vez mais, é preciso um perfil de errepê competente em lidar com as questões administrativo-financeiras que NÃO SÃO "releases-de-auto-elogios" e, no nível do board das empresas - como, aliás, acontece no primeiro mundo, influir em decisões de negócios com um olho no quê essa ou aquela decisão podem ter de risco potencial em termos de baixa de goodwill (simpatia, boa vontade) decorrente de futuro noticiário desfavorável.
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