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Uma reflexão independente sobre a mídia.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ricardo Boechat fez a pergunta certa

O âncora matinal da rede Band News FM acertou em cheio quando perguntava, no ar, hoje: - quem são os donos da Super Via, do Metrô Rio e das Barcas S/A ?

Talvez querendo homenagear a tão sofrida aniversariante do dia - a cidade de São Paulo (completando 456 anos de fundação) - Boechat escolheu mirar as mazelas do seu Rio de Janeiro do coração. E justamente no aniversário - também - do Tom Jobim...

E, bem sabem os cidadãos cariocas, não há nada pior na cidade, mais que a violência, mais que a sujeira, não há nada pior no Rio de Janeiro do que os transportes. Sejam eles quais forem; ônibus, trens, bondes, metrô, táxis, barcas. E isso para não falar do Galeão, do trânsito "bandalha" e dos flanelinhas que nunca largarão o osso de nossas canelas assim que ousarmos estacionar em seus domínios.

Desde o tempo dos lotações, dos táxis "no tiro", da Central do Brasil, o Rio de Janeiro é a cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos.

E durante mais de uma hora bradou Boechat com a jovem equipe de reportagem da Band News FM atrás de nomes. Sim, nomes, que ele queria citar no ar. Nas suas palavras: "para que seus vizinhos os cobrem, para que os colegas de escola de seus filhos os cobrem os lucros absurdos em troca de serviço tão ruim".

COMENTÁRIO DO OFFBUDSMAN

Momento raro na imprensa brasileira. Embora uma "confraria", a audiência das rádios "all news" inclui formadores de opinião, líderes empresariais, políticos (ou pelo menos seus assessores). E esses bem que deviam estar curiosos para saber "quem são os donos" das empresas que lucram com a pavorosa privatização, no Rio, dos serviços públicos que Sampa (ainda) mantém - em outro patamar. Vá perguntar aos paulistanos se eles aceitam a privatização do Metrô. Ou da Sabesp. Pois os fluminenses baterão continência em "sim" quando e onde se anunciar a privatização da Cedae. Detestam o estado e tudo aquilo que lembre estado.

Depois não venham reclamar da conta d'água, pedindo ao Boechat que indague, direto de São Paulo, "quem são os donos da água e do esgoto nesta Mui Heróica São Sebastião?"
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Relações Públicas não são empulhação. A obra de "expansão" do Metrô Rio sim.

Deu na coluna de Artur Xexéo de 20 de janeiro de 2010, intitulada "Patrão, o metrô atrasou" (O Globo, Segundo Caderno, p. 10):

"Não dá para ler o atual noticiário sobre o metrô carioca sem sentir uma nostálgica tristeza. Desde que foi inaugurado, mesmo que, nos seus primeiros tempos, recebesse críticas de não levar ninguém a lugar algum, o metrô sempre encheu de orgulho a alma sofrida do morador do Rio de Janeiro. Podia-se falar mal de qualquer aspecto da cidade, mas não do metrô. Era impecavelmente limpo, surpreendentemente confortável e, com o passar do tempo, indiscutivelmente eficiente. Mas o que foi que aconteceu com o metrô? Hoje, a crônica do metrô lembra o que se dizia dos trens da Central nas décadas de 1950 e 60. Vagões superlotados, falta de ar-refrigerado, horários não cumpridos. O metrô virou uma droga.

Nesse caos, apareceu o meu personagem preferido da semana: o senhor Joubert Flores, diretor de Relações Institucionais do Metrô Rio. O que é um diretor de Relações Institucionais? Imagino que seja o que, no meu tempo, chamava-se de relações-públicas. Ou, então, de assessor de imprensa. Enfim, o senhor Flores é quem dá entrevistas para os verdadeiros responsáveis continuarem na encolha. E, para o senhor Flores, talvez influenciado pela força de seu sobrenome, tudo vai bem.

O metrô está superlotado, reclamam os usuários. Mas o senhor Flores garante que o movimento está normal e que o sistema está trabalhando com 10% a menos de sua capacidade.

As portas dos trens estão com problemas na hora de fechar. O senhor Flores diz que as portas fecham normalmente. Há uma demora muito grande entre um trem e outro. O senhor Flores diz que o metrô cumpre seus horários à risca. E não se fala mais disso.

O metrô carioca deveria estar vivendo sua glória. Criou-se a ligação direta entre Pavuna e a Zona Sul, foi inaugurada a sempre sonhada e tão adiada Estação Ipanema, mas o brilho das novidades está sendo esmaecido pela má administração. O Rio já se orgulhou de seu metrô. Hoje, morre de vergonha dele."

COMENTÁRIO DO OFFBUDSMAN

Artur Xexéo tem razão. Sendo uma das referências atuais do jornalismo brasileiro, é ótimo que seja assim. Xexéo, resumidamente, escreveu: "relações institucionais são sinônimo de relações públicas que são sinônimo de assessoria de imprensa". Ponto final.

Ponto final não, ponto-e-vírgula; faltou Xexéo explicar que hoje o público não quer mais porta-vozes (e os relações-públicas sabem bem disso). A opinião pública quer ouvir o executivo principal. Colocá-lo em xeque. Ou seja, não dá mais para deixar os verdadeiros responsáveis "na encolha".

Na crise em que vive o Metrô Rio, a genuína assessoria de imprensa deve assumir perante os veículos de comunicação os erros da implementação da obra feita. E reportar os esforços reais feitos para minimizar os problemas do serviço.

E à imprensa - inclusive ao veículo em que o sr. Xexéo trabalha - cabe denunciar o contrato de concessão renovado por mais 20 anos em troca de uma obra sabidamente errada no que toca à expansão do serviço metroviário e deixar de fazer marola repercutindo que "o governador mandou um e-mail desaforado ao presidente do metrô".