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Uma reflexão independente sobre a mídia.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Deu anteontem n’O Globo (P. 24), na matéria de Bruno Rosa e Luciana Casemiro:


Medida foi tomada após denúncias de consumidores contra um anúncio sobre o patrimônio da funcionária Bettina; empresa declarou não ter sido notificada.

LINK – https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2019/03/25/conar-abre-representacao-contra-propaganda-da-empiricus.ghtml

COMENTÁRIO

O ‘caso Bettina’ enche as páginas dos jornais porque a mídia simplesmente adora quando as polêmicas que a envolvem desviam-se e vão parar noutros atores. Pode ser o governo de plantão, a herança do governo anterior, pode ser a crise mundial ou o crescimento mundial, pode ser a islamização do ocidente ou a secularização do oriente. ‘Ótimo!’ – exclamam os publicitários – Esqueceram de nós!

Mas… sempre tem um mas… este OCI nunca esquece a propaganda e nunca muda de canal. Então, vejamos:

Propaganda enganosa sempre existiu. O que nem sempre existiu foi o CONAR (ao contrário do que ditam os manuais de redação, não transformamos siglas em palavras) – Código Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. Este órgão – que é exemplar – funciona. Por isso, inclusive, há a notícia que clipamos.

Mas a verdadeira questão – ou crise – ou absurdo – ou lástima – é bem outra. Trata-se da captura do imaginário do século XXI por ideias do início do século XX. Indústria automobilística (e consequente economia do petróleo). Ponto. E a usura (que também costumava ser pecado naquele século).

Experimente: ligue a TV por assinatura (não a TV aberta, pois esta já está ligada…) e repare nos comerciais (não valem ‘anúncios-varejão’ de supermercados) dos canais (naqueles em que há comerciais… são poucos). Perceba. Os anúncios são de: bancos, CTVMs (corretoras de títulos e valores mobiliários), telefonia e automóveis. O resto do tempo ‘comercial’ exibe ‘calhaus’ (nomenclatura antiquada para ‘anúncios ou chamadas do próprio canal ou de empresas do mesmo grupo’). Ou seja, você ‘investe’ para poder comprar um novo carro e um (cada vez mais) novo smartphone. Um ciclo. Simples assim. No livro ‘Quem mexeu no meu queijo?’, Spencer Johnson denomina este ciclo de ‘corrida de ratos’.

E o problema – como afirma Samy Dana, em sua coluna n’O Globo de hoje (P. 16) – seria mais para apreciação da CVM – Comissão de Valores Mobiliários – do que para o órgão do setor publicitário. Mas… a verdade é que ninguém está preocupado com o uso – torto – da palavra ‘investimento’ presente em anúncios de simplesmente TODOS os ‘breaks’ comerciais. XP, Órama, Pine, BTG, Original, PAN. Safra, Sofisa, Unicred… Isto sem falar nos bancões: Brasil, Bradesco, CEF, Itaú-Unibanco, Santander. Há mais, muito mais.

E a Empiricus, ‘mãe da Bettina’ – que noticia não querer entrar para o time dos bancos – declara-se uma ‘publicadora de conteúdos’. O que é isso? Mídia? Consultoria? Anunciante?

Pensando bem, o Brasil precisa mesmo regular essa bagunça. Mídia é mídia ou também anunciante? Mídia-anunciante? Anunciante é anunciante ou ‘parceiro’? Ou é ‘Projeto de Marketing’? Como políticos profissionais têm mídia se lhes é vedado ter mídia? Político-mídia? Mídia-político? Está difícil compreender… e operar nesse modelo.

Como sabido há décadas, o maior deficit brasileiro não está na Previdência, mas – sim – na rolagem da dívida interna. Como repete o ministro da Economia, Paulo Guedes, ‘Dá um Plano Marshall (de reconstrução da Europa no pós-guerra) por ano’: cem bilhões de dólares anuais…

Haja coragem para chamar especulação com juros de ‘investimento’. O Brasil, ‘rico’ – ainda mantém o recorde mundial nesta modalidade: aqui, 100 dinheiros, ao final de um ano tornam-se 106; na Alemanha, 100 dinheiros, ao final de um ano tornam-se 98.

Pior que agências – e anunciantes – sem noção, é o respeitável público sem ação… Na Bolsa ou na praça pública.

Como disse certa vez um ex-aluno meu: – É muita falta de sem noção…
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